terça-feira, 3 de julho de 2007

Governo aponta para 15 centrais de biomassa em Portugal

Governo aponta para 15 centrais de biomassa em Portugal“Passou-se do oito para o 80”

De repente, parece que Portugal descobriu a ‘galinha de ouro’ e do oito passou-se para o 80, com a previsão da construção de muitas centrais de biomassa. Esta é, no fundo, a ideia principal deixada pelos intervenientes do seminário ‘Biomassa e Gestão Sustentável da Floresta’, que decorreu no Visionarium – Feira, no passado dia 26 de Junho. Estes não deixaram de frisar o risco de vir a faltar matéria-prima para estas estruturas.


ÂngelaAmorim

“Em Portugal passou-se do oito para o 80. De repente quer construir-se muitas centrais de biomassa, o que implica muito mais investimento. A questão que se coloca é se haverá biomassa suficiente para tantas centrais”, começou por alertar Carlos Alegria, promotor do projecto da central de biomassa das Terras de Santa Maria, que irá localizar-se ena freguesia de Carregosa, do concelho de Oliveira de Azeméis.
Com as previsões governamentais a apontarem para a implementação de 15 estruturas no país, este responsável, que assume também funções no FPT – Energia e Ambiente, não deixou de questionar, quase de forma retórica: “Em Portugal, há por hora 1500 toneladas de biomassa para alimentar essas centrais? Há sempre camiões, por hora, para levar a matéria-prima? Há 15 hectares de floresta para desbastar por hora?

Estamos a vender o “nosso petróleo”
Como se tudo isto não bastasse, a tarifa paga em Espanha pela biomassa “é mais elevada”, que acaba por levar os agentes económicos do sector florestal português a levar para o país vizinho a matéria-prima. “Estamos com uma grande pressão na procura da biomassa e nós estamos a vender o ‘nosso petróleo’, que é a nossa floresta”.
Lembrando que a matéria-prima que deve alimentar uma qualquer unidade deste género são apenas os resíduos florestais e não as próprias árvores, Carlos Alegria confessou algum receio que isso não seja totalmente respeitado pelos madeireiros e não há como controlar, em termos de central, pois o que chega à estrutura já vem triturado. Todavia, importa salientar que o governo já garantiu fiscalização apertada. Resta saber se vai, efectivamente, funcionar.

Central de Carregosa em “velocidade cruzeiro” para o ano
Após cinco ou seis anos a perseguir o objectivo da implantação de uma central de biomassa, que servisse as Terras de Santa Maria, Carlos Alegria vê, finalmente, o seu projecto vingar. Com o licenciamento concluído e aprovado, a linha eléctrica montada, a obra – que já decorre – está, actualmente, à espera da caldeira, que está para chegar. De acordo com o responsável, esta estrutura entrará em “velocidade cruzeiro” já para o ano.
Esta central vai englobar os cinco municípios do Entre Douro e Vouga (EDV) – Oliveira de Azeméis, S. João da Madeira, Santa Maria da Feira, Vale de Cambra e Arouca – aos quais se reuniram, neste projecto, Castelo de Paiva e Cinfães, num total de 1215 quilómetros e numa área extremamente acidentada. Esta característica, que tem dificultado o controlo dos incêndios florestais, também não facilita nada a apanha da matéria-prima para alimentar a central.

Criação de postos de trabalho
De acordo com os números apresentados por Carlos Alegria, a central de Terras de Santa Maria – que trabalhará 100 ou 120 mil toneladas por ano de biomassa - vai dar trabalho directo a 15 pessoas, envolverá mais uma dezena no transporte e várias outras na limpeza dos matos, apanha e trituração dos resíduos.
Este projecto pensa instalar vários ecopontos florestais, tendo já vários municípios manifestado o seu interesse em obtê-los, nomeadamente Oliveira de Azeméis, Santa Maria da Feira, Vale de Cambra e, ainda, Sever do Vouga, Cinfães e Murtosa.

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Borges Gouveia, presidente do conselho de administração da Energaia

O ciclo de seminários técnicos ‘Eficiência na gestão energética’ – do qual este, ‘Biomassa e Gestão Sustentável da Floresta’, faz parte “visa proporcionar a troca de informações e consubstanciar-se em projectos concretos e realizações visíveis, de forma a estender-se a um número mais alargado possível de pessoas. Esperamos que, no final, tenhamos mais agentes envolvidos nesta temática da gestão energética, que tem grande incidência na agenda política portuguesa”.

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Salvador Malheiro, UTAD

“Podem ser retirados 2,2 milhões de toneladas de biomassa, por ano, da nossa floresta, o que equivale a 4,4 milhões de barris de petróleo, isto é, 286 milhões de euros”. Para além disso, representa uma substancial redução de dióxido de carbono, o que é exigido pelo protocolo de Quioto, cujas directrizes Portugal está longe de cumprir.
“No cenário actual, não haverá, com certeza, biomassa suficiente para o número de centrais que o governo prevê construir”. Correio de Azeméis

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